neste espaço reúnem-se textos que me podem servir de apoio, de várias áreas: pintura, escultura, ourivesaria, iconografia, iconologia, heráldica, emblemática, arquitectura, peritagem e avaliação de obras de arte, conservação e restauro...
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Ex-votos pictóricos




Do latim ex voto, que significa segundo promessa, os quadros votivos geralmente conhecidos como milagres ou ex-votos são pequenas pinturas anónimas que se ofereciam a Deus, aos Santos ou à Virgem, e que se colocavam nos espaços sagrados, como intercessores entre o crente e a divindade, para reduzir as dores humanas.

São narrativas pictóricas com cenas do realismo quotidiano, mas reduzidas ao essencial, figurando um determinado momento de temor pela vida, num ambiente com densidade religiosa e moral.
As circunstâncias mais frequentes são um doente acamado ou um acidente prestes a acontecer. A divindade à qual se dirige a mensagem costuma estar representada num nível mais elevado que a restante cena, e no nível terreno, figuras voltadas para ela a orar.

A mensagem é passada pela imagem mas também pela linguagem verbal. No texto que acompanha a imagem, geralmente surge o nome da divindade, o nome do executante ou o encomendante, a acção e por vezes a toponímia. Mas em certos casos, multiplicam-se numa variedade de pormenores. As legendas prolongam a narrativa modelada na imagem.

Em Portugal, os ex-votos começaram a ser executados em finais do século XVI, tiveram o seu expoente máximo entre meados do século XVIII e meados do século seguinte, extinguindo-se gradualmente com a divulgação da fotografia.
O suporte é diversificado, desde madeira, chapa de cobre ou zinco, cartão, azulejo, vidro; bem como a técnica, utilizando-se o óleo, o lápis ou a aguarela. São sempre de pequenas dimensões, sendo em média de 50 por 30 cm.

As limitações técnicas são quase uma constante, conferindo-lhes um carácter ingénuo, e daí serem catalogados como uma arte menor. Sendo a componente humano-religiosa a que mais pesa, o ex-voto ganhou a categoria de arte popular.
Inicialmente feito por todas as classes, a partir de meados do século XIX, as pessoas economicamente desfavorecidas é que utilizavam este recurso. É mais notável nos erros ortográficos e deficiências de redacção, próprias das classes menos privilegiadas. Quando surge um exemplar com altos níveis de composição plástica e perfeição linguística, é porque o executante ou encomendante é socialmente favorecido.

Os ex-votos, tabulae votivae (pinturas votivas), são recursos espirituais com um código colectivo de vocabulário cristão, perceptível e não-enigmático, que se depositavam em igrejas, capelas e mosteiros.



Bibliografia

NOGUEIRA, Carlos - O ex-voto pictórico português. Invenire, Revista de Bens Culturais da Igreja. Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja. ISSN 977-1647-8487. N.º 3 (Jul - Dez 2011) pp. 6 - 10.

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