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Uma história do corpo na Idade Média







Uma história do corpo na Idade Média
Jacques Le Goff
Editorial Teorema
2005
ISBN 9789726956143


Estes são alguns dos temas que considerei mais importantes neste livro.

Na Idade Média, o corpo é um lugar de paradoxos: é o abominável agasalho da alma, mas é também glorificado através do corpo sofredor de Cristo.
É tabu que tenha ocorrido na Idade Média a separação radical da alma com o corpo; foi a razão clássica do século XVII que o fez. Mas desaparece o desporto, bem como as termas, herdados dos gregos e romanos. O culto do corpo da Antiguidade Clássica dá lugar, na Idade Média, a uma desvalorização do corpo na vida social. São os padres da igreja que fomentam esta grande viragem. O ascetismo impõe-se como modelo ideal da vida cristã.

A esperança de vida na Idade Média era de 35 a 40 anos. Não concedia à criança grande importância. É com a promoção do Menino Jesus que se promove a infância. Passa então a ver-se no baptismo um sacramento com supra importância. A criança passa a baptizar-se o mais cedo possível, particularmente no século XV, com S. Tomás de Aquino a liderar. São os escolásticos do século XIII que concluem que as crianças mortas sem baptismo, ficam privadas do Paraíso e viverão nos limbos, onde não sofrem maus tratos, mas que ficam privadas de ver Deus.

Explicavam-se as doenças através do pecado: os leprosos, por exemplo, teriam sido concebidos nos períodos em que a cópula era proibida entre os esposos, como na quaresma, vigília dos Santos, etc.) A lepra era produto do pecado sexual.
No século IV a.C. define-se a Teoria dos 4 Humores:
- Sangue
- Fleuma
- Bílis amarela
- Bílis negra
Haveria saúde perfeita quando estes humores estivessem em perfeita proporção entre si, em qualidade e quantidade.
Esconderam-se muitas invenções medievais, especialmente na área da medicina, atribuindo-as a Claudio Galeno (século II – III), um proeminente filósofo e médico. Ele é a máscara usada para a criação de muitos remédios: afirmar que uma receita é antiga, criada por um antepassado, o tratamento era bem aceite. Desta forma, muitas descobertas médicas abrigaram-se nos antigos, encobrindo as inovações da medicina medieval e catalogando esse período como de “estagnação”.

É na Idade Média que se instaura uma sociedade assistencial em redor de dois valores:
- A caritas (caridade), o laço de amor paternal entre Deus e a humanidade, revela a fraternidade humana;
- A infirmitas (enfermidade), socialmente desvalorizada por designar debilidade corporal e dependência, mas é a condição de todos os “homens frágeis”.
A caritas e a infirmitas, associadas à pobreza e à doença, servirão de poderosas alavancas para o aparecimento do hospital medieval, lugar público e gratuito de caridade.

Mas o legado medieval mais popular está relacionado com o paraíso, o inferno e agora também o purgatório, a sala de espera criada para os pecadores comuns. O inferno é representado como uma força animal, devoradora, com garras, mandíbulas e olhar hipnótico, num espaço com chamas agitadas, serpentes, demónios com corpos de animais e monstruosos. A “goela” é a representação metafórica do inferno. Os condenados estão empilhados confusamente ou a ferver num caldeirão: o avarento é representado com a bolsa ao pescoço; a lasciva com serpentes e sapos a morderem-lhe os seios e o sexo…
A partir do século XIV populariza-se o Satanás – o imperador da dor, e os suplícios diversificam-se: a forca, a amputação, a castração, corpos a assar num espeto… O repertório de castigos é imenso.



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