neste espaço reúnem-se textos que me podem servir de apoio, de várias áreas: pintura, escultura, ourivesaria, iconografia, iconologia, heráldica, emblemática, arquitectura, peritagem e avaliação de obras de arte, conservação e restauro...
nas numerosas citações, os direitos de autor são sempre respeitados, e peço a quem os usufrua, que também o faça.

O Avaliador


Em 2008 assisti a um Seminário na Faculdade de Letras da Universidade do Porto intitulada Avaliação de Bens Culturais Móveis de Miguel Cabral de Moncada. O texto que se segue é uma sinopse da sua intervenção.

Bem: pode ser corpóreo (móvel o imóvel) ou incorpóreo (conceito, pensamento, música…), sendo uma criação do homem com valor documental.

Avaliação: pretende determinar por que valor cada bem previsivelmente será vendido no mercado.

Peritagem: recorre-se a ela quando há problemas em identificar o bem, recorrendo ao conhecimento e à experiência de peritos de diversas áreas.

O avaliador

Prevê o valor possível duma peça num futuro próximo. É um sistema onde entra a livre vontade dos intervenientes do mercado, o qual se altera constantemente. O mercado de arte responde à regra da oferta e da procura: se a procura aumenta, o preço também. E a procura pode aumentar se, por exemplo, houver uma exposição desse tipo de peças, onde os compradores avaliam se gostam ou não dessa temática.
Dentro de cada área, o mercado é diferente. Tem mecanismos e comportamentos homogéneos, percebíveis e assimiláveis. O avaliador deve conhecer esse modus operandi: ter sólidos conhecimentos do funcionamento desse mercado para saber os valores que se praticam.
O ponto forte de um avaliador é a sua experiência; o facto de ter observado dezenas ou centenas de bens semelhantes, permitir-lhe-á, através da comparação, colocar numa escala o bem que tem de avaliar.

O bem deve estar devidamente identificado, com a recolha de todos os elementos possíveis para a sua caracterização: a sua descrição em texto e imagem, os seus dados físicos (dimensões e peso), os materiais que o constituem e a técnica ou técnicas utilizadas na produção desse bem.
Para além desta recolha básica, Miguel Cabral de Moncada referiu um conjunto de factores suplementares de importância fundamental para a determinação do valor de um bem.
» Um factor que contribui para a valorização de um bem é se ele for de época, ou seja, que as suas características correspondam ao que se produzia no período histórico a que ele pertence, e cujas particularidades respeitam o que nesse período estava em vigor, relativamente à sua tipologia, aos materiais que o compõem e às técnicas utilizadas na sua concepção, bem como a sua qualidade. A estes elementos aliam-se os sinais naturais de desgaste e de uso que só o tempo e a humanidade conseguem produzir nos bens.
» A autoria nem sempre é determinável, e quando o é, os autores têm cotações distintas. A presença da assinatura pode aumentar o valor no mercado, mas não é factor determinante.
» Quanto melhor for o estado de conservação de um bem maior será o seu valor. O restauro pode aumentar significativamente o seu valor, mas também o desvaloriza em relação a bens idênticos não restaurados (porque o seu bom estado não exigia uma intervenção). Em cada tipo de bens existem especificidades quanto aos seus diversos estados de conservação e em relação aos seus restauros mais comuns.
» A raridade pode ser aferida através do conhecimento que se possa eventualmente ter do número de bens semelhantes que foram fabricados, ou através da quantidade de bens idênticos que se conhecem ou que aparecem no mercado.
»Embora aparentemente subjectivo, a estética de um bem é um factor importante para a sua valorização. Essa estética é considerada pela opinião generalizada dos entendidos e interessados na matéria.
» Perante bens semelhantes, aquele que tiver melhor qualidade, quer de concepção, quer dos materiais utilizados, quer de execução, terá maior valor de mercado. A experiência de observar dezenas de bens semelhantes permite, através de comparação, colocar o bem numa escala.
»Um bem adquire comercialidade quando o mercado adquire vontade de o possuir. Este facto reflecte-se no seu valor.
» Por história e passado dos bens entende-se onde esteve fisicamente, a quem pertenceu, o que comemora ou simboliza, quem o encomendou, etc. O mercado valoriza por vezes de forma imprevisível bens que pertenceram no passado a determinada pessoa ou que esteve colocado em determinado local. A comprovação documental é importante mas a tradição oral também.
» Dependendo do local de origem de um bem, o mercado tem maior ou menor vontade de o adquirir. Há um grupo de bens de valor internacional, mas os restantes têm, normalmente, mais valor nos países de origem. Entre bens similares, aqueles que são de países ou regiões com poder de compra, serão mais valiosos que os de países menos ricos.
» Os mercados têm altos e baixos e isso reflecte-se no valor do bem: em momentos de expansão e euforia tem tendência a subir, nas recessões ou crises tem tendência para baixar. Assim sendo, o momento em que o mercado se encontra é fundamental.

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